segunda-feira, 29 de março de 2010

Alguns momentos com René Padilha

Semana passada, dia 26/03, participei, na companhia de dois colegas aqui do Vale do Ribeira (Richard e Jeriel) de uma palestra na IBAB (Igreja Batista da Água Branca), ministrada pelo pastor e teólogo René Padilha. É sempre motivador e ao mesmo tempo desafiador ouvir pessoas com a experiência e a mente de homens como René Padilha. Ele nos trouxe um histórico de sua trajetória, com muita humildade e simpatia em seu “rebuscado” portunhol. Compartilhou um pouco de sua dor pessoal, pois recentemente ficou viúvo. Com humor, disse que a única coisa boa que aconteceu, enquanto fez o seminário teológico, foi conhecer a mulher com que se casou e viveu até poucos meses atrás.

Relatou os congressos missionários do Século XX, cujos primeiros não houve a presença de latino americanos. Compartilhou que certa vez foi indagado por um professor marxista sobre qual o papel ou que relevância as igrejas protestantes tinham para os problemas sociais no mundo. Ele não soube responder, isso se deu no começo da década de 60. A partir de então começou a refletir sobre essa questão, sobre a missão integral, que o evangelho deve ser integral. Algumas frases que citou me chamou atenção: “Jesus não veio só para falar do amor de Deus, mas para viver e manifestar esse amor.” “Vida em abundância tem a ver com a reconstrução das relações humanas e com a criação.” “Ser seguidor de Jesus Cristo não é apenas ser participante de uma comunidade, mas é aquilo que somos, pensamos e vivemos.” O que mais frisou foi que “teologia sem vida não vale nada. O Logos se fez vida”. Relatou a incompreensão que sofreu por parte de igrejas e teólogos, devido a teologia tradicional de missão (salvação/céu), uma teologia salvacionista e desvinculada da vida.

Destacou a tríade que, segundo ele, a Bíblia aponta: viúva, órfão e estrangeiro. Sua base é Miquéias 6: 8: O que Deus pede ao homem é que pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com Deus. O que causou um espanto, principalmente a ele, foi o fato de haver pouquíssimas publicações e traduções dos textos do espanhol para o português. Há muita produção séria de teologia latino americana, escritas em espanhol, que infelizmente no Brasil não são traduzidas. Isso mostra o quanto o mercado literário brasileiro, em termos de teologia, ainda é pobre. As traduções são geralmente do inglês norte americano, apenas por interesse de mercado e que contribuem muito pouco ou quase nada para a reflexão teológica.

A reação foi feita pelo professor Jung M. Sung da UMESP, onde salientou a importância de Padilha para a produção teológica na América Latina. Na sua fala afirmou que teologia não é o estudo de Deus, mas é uma reflexão crítica, sistemática sobre a experiência da fé. Também frisou que cristianismo é uma religião que tem problema com a religião e que hoje há uma carência de uma nova geração de pensadores. Concluiu sua parte comentando sobre o consumismo como idolatria, principalmente quando se tenta consumir algo carregado de símbolo, citando o exemplo de uma Ferrari de dois milhões de reais. Isso, segundo ele, já não é ter algo, mas é a tentativa de ser dono de algo que é muito maior, de uma divindade, portanto, idolatria. Simplicidade é viver sem ídolos.

Houve várias perguntas pelo plenário e todas respondidas. A iniciativa na participação do Pr. René Padilha foi da RENAS, Rede Evangélica Nacional de Ação Social (www.renas.org.br). Foram destacadas também os inúmeros projetos socais desenvolvidos no Brasil por igrejas locais e por iniciativas particulares. Valeu a pena participar desses momentos de reflexão e inspiração, que me fez pensar e sentir que o evangelho precisa fazer parte de uma realidade histórica e concreta, que está além dos púlpitos, cultos e templos.

Claudinei Fernandes