terça-feira, 6 de maio de 2014

A família e seus acúmulos

(Mateus 6:19-21). O mês de maio é propício para dar ênfase ao tema da família. É claro que essa abordagem se faz necessária o tempo todo. Não é tão simples refletir sobre a família, pois, em nosso tempo, de modo geral, a vida é pensada a partir do indivíduo e não a partir do coletivo. Isso significa dizer que o indivíduo tem olhado para todo grupo social, inclusive a família, apenas como um instrumento para lhe servir. Não se trata mais de uma aprendizagem de convivência, onde se desenvolvem afetos, limites. Parece que tem desenvolvido outra configuração. O primeiro referencial de coletividade, de pertencimento, é o lar, a família. O padrão ideal familiar; pai, mãe, filhos, numa relação de afeto e mutualidade, com papéis sociais definidos, tem sofrido transformações. Há o ideal, mas temos que considerar o real, que é muito presente em nossa sociedade. Hoje nós temos mães que criam filhos sozinhas, pais que também exercem essa função, avós que cuidam de netos, pois seus filhos, de forma irresponsável, acabam ‘colocando’ crianças no mundo e simplesmente transferem a responsabilidade aos avós. Algumas pessoas são saudosistas e afirmam: “Antigamente as famílias eram melhores. Não havia divórcios, os filhos eram obedientes.” Diante de afirmações assim, temos que perguntar: Antigamente, mesmo não tendo casos de divórcios, será que os casamentos eram saudáveis e bem sucedidos? Será que as mulheres, que eram totalmente dependentes do marido, eram felizes ou suportavam por não terem outra opção? Será que os filhos eram tão obedientes assim, ou viviam sob opressão? Respeitavam os pais ou tinham medo? Essas perguntas são importantes, mas devemos ter o cuidado de não generalizar as respostas. Voltando ao texto bíblico lido, Jesus fala sobre dois tipos de acúmulos. “Acúmulo de tesouros na terra e acúmulo de tesouros nos céus.” Ele é bem enfático quando afirma: “ Pois onde estiver o seu coração, aí também estará o seu coração.” ( Mt 6:21). Faz um alerta ao perigo de viver em função do acúmulo de riquezas. A única vez que Jesus faz menção, de forma direta, a respeito de outro deus (idolatria) é quando fala do dinheiro ( Mamom) ( Mt 6:24). O viver para acumular acaba fazendo com que as atenções sejam voltadas apenas para isso. A família se torna um meio, isto é, a educação dos filhos visa alcançar dinheiro, o trabalho só tem essa finalidade, a prioridade é essa. Lembro-me certa vez, quando fazia um curso, uma colega perguntou a outra: “ Como vai seu filho?” A resposta foi: “ Ah, ele está bem, o casamento dele está quase acabando, mas ele está ganhando bastante dinheiro, isso é que importa.” Isso retrata bem o significado de acumular riquezas. Sempre alguém perde com isso, pois há feridas perenes, rompimento de relacionamentos, homicídios e roubos. Como uma frase que li recentemente: “As pessoas têm seu valor, algumas têm seu preço”. O dinheiro não é o problema, mas o viver para ele é idolátrico, doentio. Muitas pessoas não têm condições de acumular tanto dinheiro, mas vivem acumulando outras coisas, que não são materiais, mas acabam se “materializando”. Acumulam ressentimentos, ódio, amargura, fardos emocionais, intolerância, medo, culpa, peso. Vivemos hoje um acúmulo de informações e ‘comunicações’. Isso não significa que as pessoas estão ouvindo umas as outras. Há muita informação, mas uma carência de ouvidos, de atenção, inclusive dentro do lar, dentro do mesmo quarto, na mesma cama. Casais que acumularam tantas experiências negativas, que têm muita dificuldade de vivenciar um novo tempo. Há aqueles que não sabem, mas amam viver de autocomiseração.( v.33) “ Se os seus olhos forem maus, todo seu corpo será cheio de trevas.” Felizmente o texto aborda um acúmulo positivo. “ Tesouro nos céus” (Mt 6:20). Importante destacar que o texto não diz “ tesouro para o céu”, mas “tesouro nos céus.” No evangelho de Mateus, não se refere a um lugar, mas a valores. “Céus” (grego ouranos), nesse texto, tem a ver com uma forma de viver, não um lugar. Não podemos entender esse “tesouro nos céus” como se fosse uma espécie de entrada para um financiamento imobiliário para o céu. Vale a leitura do v.22. “ Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz.” Diante disso, a recomendação é para que se acumule valores e atitudes que tem a ver com o Reino de Deus. Perdão, afeto, esperança, respeito, tolerância, oração. É quando, dentro de casa, fica claro as escalas de valores. Pessoas são mais importantes que coisas, a família vale mais que qualquer riqueza. Atenção é mais importante que os resultados. Os limites são compreendidos pela disciplina com amor. A espiritualidade é algo assumido e vivenciado de forma séria, o relacionamento com Deus e com sua palavra têm significado profundo. O comunitário é experimentado e tido como algo de extrema relevância. De qualquer forma,buscamos acúmulos. Obviamente acumulamos aquilo que é mais importante para nós. Cabe uma pergunta: Onde está nosso tesouro? Essa pergunta é importante, pois, segundo Jesus, é lá que estará nosso coração. Pensando na família; o que temos acumulado em nossas relações? Que Deus nos ajude!