segunda-feira, 1 de junho de 2009

Quebra de paradigmas ou ausência de vida: Desafios da família e da igreja

Sermão pregado no dia 30 de maio de 2009 na Segunda Igreja Batista de Jacupiranga.

Texto: Jo 9: 1-34

Tema: Quebra de paradigmas ou ausência de vida: Desafios da família e da igreja.


Hoje nós estamos encerrando uma série de mensagem sobre a família e, nesta última mensagem vamos pensar sobre a necessidade de quebrarmos paradigmas. Paradigmas são conceitos ou modelo que adotamos, acreditamos e nos guiamos por ele. Incutimos que aquele jeito é o único jeito ou o jeito correto de viver, fazer e pensar. Temos que construir nossos paradigmas à luz de Jesus. Tanto a família, quanto a igreja, quanto toda sociedade são regidas por paradigmas.Este texto narra um milagre que trouxe uma grande polêmica no meio daquelas pessoas. Ao olharmos o texto num primeiro momento, parece não ser perceptível o motivo de tanta polêmica ou de tanto conflito. Ou se percebemos, não entendemos. O fato é que havia um cego de nascença que Jesus curou. O problema era a compreensão ou a explicação que alguns tinham sobre um cego de nascença. Para muitos um homem nascia cego devido ao pecado dos pais ou até mesmo por causa de uma espécie de destino. E na tradição do ‘talmud’, não existia cura para um cego de nascença, pois somente o messias poderia fazer isto. (v.32) Ninguém jamais ouviu que os olhos de um cego de nascença tivessem sido abertos. Este cego também era mendigo (v.8), era conhecido de seus vizinhos e tinha uma família, seus pais eram vivos. (v.20). Ele tinha um círculo social, tinha relações humanas. Era alguém vítima de uma cultura que o excluía pelo fato de ser cego e pelas causas que atribuíam a esta cegueira. Jesus menciona outro tipo de cegueira no texto. (V.39). Eu vim a este mundo para julgamento, a fim de que os cegos vejam e os que vêem se tornem cegos. Estava se referindo a uma cegueira tão cruel ou até pior que a cegueira física. A cegueira para a vida, para o humano, para Deus. No texto há uma forte relação com a família, como em toda a cultura judaica. Diante disto vamos pensar alguns princípios importantes nesta relação familiar e na relação com Deus.

1. Uma compreensão que aprisiona

Na vida há algumas compreensões ou pelo menos tentativas de explicar as contingências da vida. Destaco aqui, de forma bem simples, que na teologia e na filosofia, contingência significa que a vida está sujeita a todas as possibilidades de alegria, de dor, de sofrimento, de relacionamentos, de sentimentos, etc. Todos estão sujeitos a isto. Inclusive aqueles que são fiéis a Deus. Não se trata de destino, de vontade de Deus, de pecado, mas de contingência, ou seja, de existência. O viver é assim. Os discípulos de Jesus eram influenciados por uma teologia de causa e efeito. Do tipo: ‘Está sofrendo porque fez alguma coisa, porque cometeu algum pecado.’ Seus discípulos lhe perguntaram: “Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?”(v.2) Esta forma de pensar era comum naqueles dias, aliás, o Livro de Jó mostra isto muito bem, quando os amigos de Jó tentam convencê-lo de que aquele sofrimento era uma conseqüência de pecado. Uma tentativa de explicar algo, que na verdade não era daquela forma. No texto lido, os discípulos compreendiam a dor a partir da culpa. Inclusive mencionam a possibilidade de que o homem cego sofria por causa dos pais. Era uma compreensão cruel e desumana. Esta compreensão é muito mais comum do que a gente possa imaginar. Inclusive dentro de casa. Há muitas pessoas que não conseguem se relacionar bem, que não conseguem dialogar porque as situações não estão como gostariam que estivesse. É mais fácil compreender a partir da culpa. “Quem é o culpado por isto?” Infelizmente isto é muito comum entre famílias. Filhos que culpam pais por não darem os que eles gostariam de receber. Pais que culpam os filhos por impedirem a realização de seus sonhos. Mulheres que culpam seus filhos por “estragarem” seu lindo ‘corpinho’. Este é um tipo de compreensão de vida e de fé que só aprisiona, só faz mal.

2. A difícil tarefa de se libertar desta compreensão

Não é algo simples se libertar desta forma de compreensão. Porém é necessário para quem deseja viver bem. (v.3) “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.” Jesus está confrontando o pensamento, a compreensão de ‘causa e efeito’. Ele não está dizendo que foi Deus que fez aquela doença para que a obra de Deus se manifestasse na vida do cego. Ele está dizendo que aquela situação que estavam vivendo naquele momento iria proporcionar a manifestação da obra de Deus na vida do cego. A cura deste homem representaria muito mais que um milagre, mas a quebra de uma compreensão teológica. Haveria um corte em tudo aquilo que eles compreendiam até então. Por isto há toda uma confusão em torno desta cura. Era Sábado. Não era permitido a realização de nenhum ato no Sábado, mas Jesus ignora isto. Cego de nascença era sinônimo de maldição, mas Jesus ignora isto e abençoa o cego. Até os pais daquele rapaz tinham esta compreensão. O homem era cego, mendigo, motivo de especulações religiosas, considerado um amaldiçoado. Ainda por cima era Sábado. Jesus passa por cima de tudo isto! A confusão então se arma! Como é difícil as pessoas mudarem a forma de compreender a vida ou até mesmo a forma de pensar sobre Deus! Isto acontece também entre famílias. A maneira de compreender a vida, a opinião de um pai, que se sempre aprendeu assim, que sempre viveu assim, muitas vezes é como se fosse a única forma de pensar. Às vezes um filho que tem algum tipo de deficiência ou alguém da família que sofre e toda a família tenta buscar explicações, os ‘por quês’. O que precisamos entender é que a vida tem que ter o máximo de dignidade possível e nem sempre explicações são possíveis. Nem todos os cegos de nascença foram curados por Jesus, mas este foi. Jesus mostrou ali que a dignidade humana é algo que Deus valoriza. Não podemos ver a vida como uma conseqüência de causa e efeito (aconteceu porque pecou ou não deveria acontecer porque é fiel). Deus sofre o mal conosco, sofreu na cruz. Ele não tirou o mal do mundo, mas sofreu a tragicidade humana, o mal conosco na cruz. Conforme já afirmei algumas vezes aqui, somos pessoas que estamos em construção e só há um meio de nos construirmos de forma saudável: através do amor e da compaixão. O que vence as culpas, a indiferença, a dor e o medo é o amor. O amor não garante que tudo vai sair do jeito que desejamos ou planejamos, mas garante que vale a pena estar junto, lutar pelo outro. Jesus curou o cego, mas não conseguiu tirar a cegueira no coração daqueles homens.(v.21) Idade ele tem perguntem a ele. (v.22) Seus pais disseram isso porque tinham medo dos judeus, pois estes já haviam decidido que, se alguém confessasse que Jesus era o Cristo, seria expulso da sinagoga. Ser expulso da Sinagoga significava mais para aqueles pais do que celebrar com o filho o milagre alcançado. É compreensivo até certo ponto, pois expulsão de uma sinagoga era algo muito forte naquela cultura, mas a indiferença diante da cura do filho é de assustar! Quantas pessoas, assim como aquele cego, vivem atormentadas no meio da família achando que foram esquecidas? Esta semana (no noticiário) um casal que havia adotado uma menina de oito anos, resolveu devolvê-la. O caso está na justiça. Como fica o coração de uma criança que já se sentia excluída, agora se sentindo rejeitada duas vezes? Como pessoas compreendem a vida desta forma? Se não servir a gente devolve. Se não der certo a gente separa. Que compreensão de vida é esta? (v.24) Para a glória de Deus diga a verdade. Sabemos que esse homem é pecador. Oprimiam para “a glória de Deus”. Há pessoas que fazem tantas coisas em nome de Deus! Quando na verdade há muito pouco ou quase nada de Deus em seus atos. Deus não é glorificado na inveja, na crueldade, na arrogância, no orgulho, no desprezo. O problema para os judeus não era a dor do cego, mas a dignidade que Jesus deu a ele. Os líderes judeus não aceitavam isto. A vida não valia para eles, o que valia era a tradição, ou o poder que eles não tinham.

3. A simplicidade e a ousadia de quem sabe o que está falando

...Uma coisa eu sei: eu era cego e agora vejo. (v.25). O cego compartilha aquilo que havia acontecido em sua vida. Ele não estava preocupado com a opinião dos religiosos acerca de Jesus. Ele deixou de ser uma vítima, sua vida havia tido uma forte transformação. Há muitas pessoas que gostam de ser vítimas. Não assumem uma nova posição na vida, ficam se arrastando. Foi curado, foi liberto, mas também passou a ver que Jesus é diferente daquelas pessoas que nunca fizeram nada por ele. Era um filho que provavelmente não tinha voz ativa. Agora ele tem voz, ele já não é mais o mesmo. Apesar o medo dos pais, ele não se prendeu a Isto. Eu vim a este mundo para julgamento, a fim de que os cegos vejam e os que vêem se tornem cegos.(v.39).Jesus está fazendo um trocadilho de palavras. Ele está falando que aos que são cegos, sem visão, sem perspectivas, sem sonhos, sem salvação, sem alegria, estes terão os olhos abertos. Mas àqueles que acham que porque são religiosos, que acreditam que são superiores, que não servem, apenas querem ser servidos, estes se tornarão cegos. Nós somos discípulos de Moisés. (v.28). Este homem experimenta uma transformação impressionante. Passa a enxergar, se sente bem, com dignidade, recupera a auto estima (pois se afirma diante dos religiosos). Ele foi profundamente impactado por Jesus, sem ainda ter entendido direito. Há lares onde necessitam de uma transformação tão impactante quanto a deste ex cego. Precisam recuperar a dignidade (casais, relação de pais e filhos etc). Precisam recuperar a auto estima para que pessoas voltem a acreditar em si mesmas, em seu próprio valor. Isto o deu força para superar a forma que com que foi tratado. Você nasceu cheio de pecado; como tem ousadia de nos ensinar. E o expulsaram. (v.34). Aqueles homens olhavam para ele como alguém cheio de pecados. Foi discriminado e expulso da presença deles, mesmo mostrando todas as evidências de sua cura.(v.35) Jesus ao ouvir que ele tinha sido expulso, encontrando-o... Jesus não se ocultou diante da acepção e discriminação daquele homem. Há tantos lares que ocultam coisas. Ocultam sentimentos, ocultam valores. Há tantas pessoas que ocultam e se isentam na vida dos outros e até de si mesmos. No reino de Deus não podemos nos ocultar.

Conclusão:

Quebra de paradigmas ou ausência de vida: Desafios da família e da igreja.

1. Uma compreensão que aprisiona
2. A difícil tarefa de se libertar desta compreensão
3. A simplicidade e a ousadia de quem sabe o que está falando

Um comentário:

  1. Legal. Aqui na igreja tb preparei uma série de sermões para o mês da família. Isso com certeza vale a pena.

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