quarta-feira, 14 de outubro de 2009

“Brasil Muçulmano” ou desencanto do cristianismo?

"Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus." (Fp 2:5)

Um artigo publicado no informativo batista, veículo de comunicação via internet em 10/10/2009, traz o seguinte título: “Brasil muçulmano?” Segundo informações deste artigo, o Brasil tem sido recentemente, talvez pelo seu destaque no cenário mundial, palco de encontros e diálogos de líderes muçulmanos, cujo objetivo é discutir e planejar seu avanço na América do Sul.

Não sou um entendido do Islã, mas sei que ele também tem uma perspectiva de conquista, assim como o cristianismo. Em relação a isso, muito se assemelham. Não sei se é necessário haver uma forte preocupação com o avanço do Islamismo em si no Brasil, mas com certeza é preciso haver uma preocupação com a Igreja. Quem sabe começar analisando se ela (igreja) tem sido realmente aquilo que Jesus propôs. A história mostra que todas as vezes que esse ‘espírito de guerra’ entre essas religiões se manteve, só houve perdas. Ao invés de pensar e analisar de forma apologética (defesa da fé), a Igreja deve pensar simplesmente o que significa ser Igreja e qual seu papel no mundo. A Ênfase de Jesus nos evangelhos sempre foi o amor, compaixão e justiça. Não deveria ser esta a ênfase de todo o cristianismo?

Se o cristianismo (católico, ortodoxo ou protestante) não atender a necessidade das pessoas, elas simplesmente se abrirão para novas perspectivas religiosas. Isso não diz respeito apenas ao islamismo, mas a qualquer religião. A cultura evangélica no Brasil, por exemplo, é anti-católica e em geral fechada a qualquer diálogo ecumênico, o que mostra uma forte insensibilidade antropológica. Tem o hábito de demonizar tudo aquilo que é contrário a sua ‘são doutrina’.

A meu ver a liberdade religiosa no Brasil é muito mais benéfica do que perigosa, mesmo dando abertura a outras religiões. Acredito até que propicie a grande oportunidade de mostrar o quanto o evangelho tem a contribuir de forma significativa em todas as esferas da vida. O quanto é possível construir um humano melhor a partir de ações concretas de amor e compaixão, de compreensão do outro, priorizando pessoas e tratando-as com dignidade. Parafraseando Leonardo Boff: “Só pode haver o ‘Pai nosso’ se houver o ‘Pão nosso’”. Se a forma de viver e entender o evangelho se der a partir de Jesus, de sua vida, de sua humanidade e da forma como ele lidava com as pessoas e as ensinava, nenhuma ação externa se tornará uma ameaça.

Infelizmente a cultura ocidental, profundamente influenciada pelo cristianismo, tem gerado muitas desigualdades sociais. Tem sido a grande portadora de um sistema econômico monstruoso que gera riquezas para poucos e conseqüentemente pobreza e miséria para muitos. Afirma ainda que isso é sinônimo de liberdade. Além deste cenário, há a grande participação na destruição do meio ambiente em nome do progresso (ou da ganância). A conseqüência destes acontecimentos causa o que Max Weber chamou de ‘desencanto’. Apesar de estar se referindo ao final do Séc.XIX e começo do Séc.XX, em relação ao desencanto com a religião e, portanto uma aproximação com o secularismo, não é diferente em nossos dias e em nosso país, só que ao invés do secularismo, a aproximação tem sido com outros horizontes religiosos. Tudo isso acaba gerando um terreno fértil para novas religiões, que se transformam em novas alternativas em meio a tantas desilusões.

Não será - assim como nunca foi - ações do tipo ‘guerra santa’ ao estilo Bush, com um fundamentalismo cristão tão estridente quanto ao do próprio Islamismo que impedirá qualquer “ameaça” religiosa. Não se deve pensar em ‘novas cruzadas’ e nem tampouco em ‘repreender o inimigo’, mas em refletir naquilo que realmente queremos ser enquanto Igreja.

Que Deus tenha misericórdia de nós!

Pr. Claudinei Fernandes

6 comentários:

  1. Ótimo texto. Fico preocupado onde vamos parar com tanto fundametalismo. A Igreja precisa se fortalecer cada dia e olhar para Cristo vivenciando seu maior projeto, o Reino de Deus.

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  2. É verdade! É triste o fato de que para muitos não há 'vida' após ou além do fundamentalismo...
    valeu

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Excelente texto, Claudinei!

    Ontem pela manhã, enquanto alguém fazia aquele 'terrorismo' lá na nossa assembléia acerca da invasão islâmica na América Latina, eu me peguei imaginando qual seria a reação dos crentes se os muçulmanos resolvessem construir uma mesquita num bairro pobre de Cajati, por exemplo (que aliás, são muitos). Qual seria a minha reação se pessoas que eu conheci como "cristãs", começassem a sair de casa vestidas de burca, xador, túnica ou cafia? Se os costumes do islamismo fossem assimilados por pessoas da minha família e eu começasse a ouvir, cinco vezes ao dia, o som da corneta chamando os fiéis para as slãts? Foi engraçado imaginar essas coisas.
    Se vivermos o Evangelho como Jesus nos ensinou e se nos dispusermos a anunciá-lo de forma integral, levando em consideração o homem todo e todas as suas necessidades, não haverá ameaça que possa perturbar a nossa paz. Que venham os muçulmanos!

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  5. É isto aí, Joel. Obrigado pela observação. Concordo com vc. Também tive a mesma impressão quanto aquele 'terrorismo' sobre o islamismo, lá na assembléia. Além o apelo sobre aquela carta do inferno, algo hermético e apelativo...
    Valeu,

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  6. Realmente pastor essa é nossa realidade.
    E trite quando vemos irmaos de outras denominações fazendo propagandas de suas igrejas, falando que la esta a verdadeira unção, la se bate palma, la se ora diferente ou la se toca guitarra nos louvores.
    Eu sempre quebro a cabeça e pergunto: como um lugar de maioria evangelica como o vale do ribeira possui tantas pessoas com atitudes deploraveis?

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