quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Um Grito Hermenêutico: O Grande Desafio Pastoral de Nossos Dias.

...mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. ( Mt 23:23b)
Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo. (Rm 14:17)
Estes dois textos retratam o pensamento teológico da Comunidade de Mateus e de Paulo. Ambos apontam elementos concretos na construção de suas ideias. Mateus descreve o assertivo discurso de Jesus dirigido aos fariseus, no qual apresenta os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. A linguagem teológica dessa comunidade é construída a partir da interpretação da Lei, isto é, da interpretação de Jesus ou da compreensão daquela comunidade sobre Jesus em relação à Lei. “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir.” (Mt 5:17).
Paulo, na epístola aos Romanos, está lidando com um conflito no qual também envolve a interpretação da Lei. Está ensinando àquela comunidade que o Reino de Deus não consiste em comida (alimentos permitidos ou não permitidos), nem em observar ou não supostos dias sagrados. Diante desse emaranhado de costumes e tradições judaicas, tenta mostrar que não há relação entre essas tradições e o Reino de Deus, pelo contrário, destaca que o Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
Os dois momentos refletem a grande distância que havia entre essas respectivas concepções da Lei em relação aos preceitos mais importantes e entre o Reino de Deus. É sempre mais fácil apelar para o rito e a forma, culto e liturgia, que são muito mais subjetivos e abstratos do que para ações concretas e humanas de serviço. Mateus parece evidenciar de forma externa, ou seja, ações que tenha o outro como alvo. Por isso, justiça, misericórdia e fidelidade. Paulo, entretanto, parece ter uma ênfase muito mais interna, uma transformação para dentro, onde cada pessoa experimenta de forma pessoal justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Essas esferas se dão tanto no público quanto no privado (coletivo e individual).
Nossa forma de pensar Igreja ainda se distancia dessas prerrogativas de Reino de Deus. É possível perceber isso em todos os seguimentos evangélicos, sejam eles: históricos, pentecostais e neopentecostais. Justiça, misericórdia, fidelidade ou justiça, paz e alegria no Espírito Santo foram trocadas por programações eclesiásticas e denominacionais, campanhas, shows, mercado, comércio e mídia. Não dá para comparar esses textos bíblicos com a atual forma de interpretação de Igreja e até mesmo de Reino de Deus.
De um lado há o excessivo apelo à prosperidade e cura pelos neopentecostais. Vale mencionar o nascimento constante de possíveis “impérios” religiosos que concorrem entre si e têm um forte poder de Marketing. O carisma de líderes que conseguem sem o menor pudor hermenêutico convencer e agregar pessoas se fazendo ‘ungidos’ inquestionáveis de Deus. De outro lado há o pragmatismo eclesiástico que reduz essa perspectiva de Reino de Deus em campanhas evangelísticas e declarações públicas (fundamentalistas) de doutrinas, onde uma pessoa simplesmente atende a um apelo e se torna um “crente”. Aprende a orar, ler a Bíblia, ir ao culto dominicalmente, contribuir com missões e é claro, ser dizimista. Não quero com isto comparar um lado com o outro, apenas apontar ênfases, que certas ou erradas, merecem destaque.
Será isso que os textos mencionados estão se referindo? Será que nossa teologia de missões está sendo pensada sobre um viés teológico concreto e humano? Será que nosso discurso realmente é bíblico?
Não tenho a intenção de desmerecer o esforço e a boa intenção de ninguém, apenas convidar para uma reflexão hermenêutica. Não seria o momento de buscarmos uma teologia bíblica mais madura e relevante? Talvez esse seja o grande desafio pastoral de nossos dias.
Pr. Claudinei Fernandes

4 comentários:

  1. Cara, que texto bacana. Recomendo vc a escrever mais, não é uma crítica mas sugestão: escreva textos não muito longos e separe os paragrafos com espaço, é melhor para ler.
    Voltando ao texto, vc pegou no calo. Acredito que a mensagem do Reino de Deus deixou de ser a muito tempo a cara da igreja, isso é lamentavel.

    ResponderExcluir
  2. É realmente precisamos re-hermeneutizar nossos pulpitos e comunidades!!! parabéns pelo texto.

    ResponderExcluir
  3. Outra chance, é meu viu claudinei do Richard. É umblog que eu fiz, desisti, e agora apareceu qdo fui me inscrever pra te seguir...Vai saber!

    ResponderExcluir
  4. Legal, obrigado Richard. Valeu pelo comentário.

    ResponderExcluir