quarta-feira, 2 de maio de 2012

Quem é o Deus de Jesus de Nazaré?

Vendo isso, os fariseus perguntaram aos discípulos dele: “Por que o mestre de vocês come com publicanos e pecadores?” Ouvindo isso, Jesus disse: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios. ’ (Mateus 9:11,12) ... Pois desejo misericórdia, e não sacrifícios; conhecimento de Deus, em vez de holocaustos.” (Oéias 6:6) A pergunta dos fariseus direcionada aos discípulos de Jesus só poderia ser respondida por Jesus. Afinal de contas, um mestre com credibilidade não poderia participar da mesa com publicanos e pecadores. Muito menos convidar um publicano (cobrador de impostos), que era considerado traidor de seu povo, para ser um discípulo. O que está em questão aqui é a compreensão sobre Deus, ou seja, como os fariseus interpretavam Deus e como Jesus interpretava. Havia dois códigos (interpretações teológicas) que se chocavam. O código da pureza, que pontuava puros somente aqueles que guardavam a Lei, a classe sacerdotal, cujo poder estava concentrado em Jerusalém, no Templo. O outro código, defendido por Jesus, era o código da aliança. Esse código, que também foi defendido pelos profetas – Amós, Miquéias, Oséias e outros - onde lembrava dos marginalizados, o povo do norte, o deserto, a Galiléia. Em palavras mais simples, Jesus não via Deus como um Deus apenas dos “puros”, mas um Deus que partilhava a mesa com pecadores (mulheres, crianças, doentes, publicanos, samaritanos, galileus, pescadores, pastores etc) que caminhava no concreto da vida, que sofria com a dor humana, um Deus que inclui. É o Aba - Pai Nosso (Mt 6:9), não apenas dos ‘puros’, mas de pecadores também, é nosso, não apenas meu. O código da pureza via um Deus que castigava, que ignorava quem não cumpria a Lei e não se submetia ao sistema do Templo, um Deus exclusivista. Por isso Jesus convida: “Vão aprender o que significa: desejo misericórdia, não sacrifícios.” Afinal de contas, quem é o Deus de Jesus de Nazaré? É um Deus que tem desejo, que espera algo de seus seguidores. O que ele espera não é um conjunto de ritos bem ordenados, um culto bem dinâmico - não que isto não seja uma coisa boa - o que ele deseja e espera é ver em nós misericórdia, perceber os outros, não apenas nós mesmos. É uma percepção mais sólida da realidade da vida, um Deus que se faz presente na História, que nem sempre nos livra do mal, mas sofre o mal conosco (L. Boff). Talvez essa compreensão seja, para muitos, irrelevante em nossos dias, afinal, o que faz “sucesso” é a versão triunfalista – O Deus de milagres, o Deus da vitória, um Deus ‘gospel’, midiático e fragmentado, onde “depende” de seus ungidos famosos, cada um com sua “unção” especial. Ao invés de desejar aprender misericórdia, o desejo parece ser mais por fórmulas específicas para se alcançar a bênção, a prosperidade, o sucesso. Concluo com uma pergunta: Quem é o Deus de Jesus de Nazaré? Melhor dizendo: Quem é o nosso Deus?

2 comentários:

  1. Boa reflexão!
    O Deus de Jesus não se parece nem um pouco com esse cantado nas famosas "Equipes de Louvor", de guerra e nem tampouco com o "Deus" neopentecostal.
    Para uma reflexão quanto a imagem de Deus - http://wwwibmi.blogspot.com.br/2008/06/por-uma-nova-imagem-de-deus-refletindo.html
    Um abraço!

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  2. Obrigado pela reação, Alonso. Precisamos refletir sobre essa imagem de Deus em nosso contexto. Abraço

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